No último dia 26, o jornalista Luiz Moutinho Nunes Viviani, do site “Jota”, visitou pela manhã o prédio da Gráfica e Oficinas do Tribunal de Justiça de São Paulo para entrevistar os funcionários que ali trabalham a fim de produzir matéria sobre o setor de Marcenaria do TJSP. Por qual motivo as atividades exercidas naquele prédio chamaram a atenção do site de notícias jurídicas? Porque, naquele endereço ,ainda se pratica a arte laboral da marcenaria, além de trabalhos manuais em madeira, couro e tecido, garantindo ao Tribunal de Justiça a possibilidade de conserto e manutenção de todo o mobiliário de estilo pertencente aos prédios da Capital, verdadeiro patrimônio histórico do Judiciário.
As principais atividades da marcenaria são executadas na Capital. Além da restauração de móveis de estilo, é atribuição do setor a instalação, readequação e substituição de divisórias para montagem de salas e a instalação de plenárias do júri – também feitas em comarcas do Interior.
O setor também aproveita madeira retirada de reformas nos prédios para elaboração de novos móveis, além de restauração de mobiliário que não precisa ser descartado, o que gera economia e garante a sustentabilidade. “Quando é dada baixa em determinado mobiliário, devido à aquisição de mobília nova, a antiga é trazida ao depósito. Funcionários da marcenaria fazem vistoria do material e separam aquilo que pode ser reaproveitado. O restante é posto à disposição para venda. A mobília, depois de restaurada, fica disponível para fornecimento a setores do Tribunal em caso de necessidade”, conta Kelson Diniz do Nascimento, supervisor na Diretoria de Oficinas Gerais.
O trabalho realizado nas plenárias dos Tribunais do Júri é bastante peculiar. Além de restaurar as antigas, os funcionários fabricam novas – que contemplam bancadas utilizadas pelo juiz presidente, promotor de Justiça, advogados e jurados, além de cadeiras, longarinas (bancos ou conjunto de cadeiras destinadas ao público) e muretas de madeira, que separam o espaço do julgamento do restante da sala. O setor é responsável pela instalação e reforma de 78 salões de júri ao longo dos anos.
Para se fazer a instalação dessas planárias no Interior é constituída força-tarefa composta por marceneiros, tapeceiros, lustradores, ajudantes e motorista, que viajam até o local e passam dias executando o serviço. No caso de restauração, retiram a mobília, trazem para a Capital e, após a conclusão do restauro, montam novamente a mobília no local de origem ou em outro prédio, caso haja solicitação.
O trabalho na marcenaria começa cedo. Todos os funcionários chegam às 6 horas, pois costumam partir às 6h30 para os locais em que executarão as tarefas. Isso acontece porque o serviço precisa, na maior parte das vezes, terminar até 10h30 para não atrapalhar o funcionamento dos prédios, pois é uma atividade que provoca ruído, poeira e cheiro forte. Terminado o trabalho, todos retornam à oficina e continuam as atividades internas.
Kelson, que completou recentemente trinta anos de serviço no TJSP – sempre no prédio da Gráfica e Oficinas –, explica que a Seção de Marcenaria nasceu nas dependências do Palácio da Justiça, logo após sua inauguração. Depois, passou pelo Fórum João Mendes Júnior, pelo bairro do Ipiranga e pela Consolação, até ser transferida para a Rua Mello Peixoto, no Tatuapé, onde está até hoje. Atualmente, conta com 21 funcionários, sendo 12 do Tribunal e 9 terceirizados, dividindo-se nos setores de Marcenaria, Carpintaria, Tapeçaria e Lustração. “Nosso trabalho é delicado e feito por verdadeiros artesãos”, afirma Kelson.
Somente no ano de 2015, o setor foi responsável pela instalação de 4.207 m² de divisórias na montagem de salas e pela reforma de 171 cadeiras e 87 mesas de estilo. No total, foram fabricadas ou passaram pelo local 11.052 peças de mobília. “Até mesmo os detalhes de enfeite da mobília são elaborados aqui. A recuperação dos lambris e mobiliário do Palácio da Justiça é prova dessa arte que estámorrendo, pois os antigos funcionários da marcenaria estão aos poucos se aposentando e não há quem os substitua. Caso o TJSP deseje realizar licitação para contratar esse tipo de restauro, correrá o risco de não encontrar empresas disponíveis no mercado”, diz Sergio Aprelini, chefe do setor.
N.R.: texto originalmente publicado no DJE de 16/3.